Moscas fêmeas escolhem vários parceiros para se acasalar, por que?



Em algumas espécies as fêmeas tendem a se acasalar com mais de um macho (poliandria). No caso, essas fêmeas podem não receber o investimento parental do macho no cuidado da prole – é sabido que, principalmente em aves, os serviços prestados pelo macho são indispensáveis para a sobrevivência dos filhotes. Por outro lado, a poliandria pode conferir vantagens também; tanto genéticas quanto materiais materiais.




Vantagens genéticas

Sob o ponto de vista da fêmea, a incerteza de que o primeiro parceiro não tenha sido efetivo para fertilizar os seus óvulos pode ter favorecido fêmeas que solicitam e aceitam cópulas adicionais de um segundo parceiro. As fêmeas podem também, com a poliandria, incrementar a variabilidade genética da sua prole – o que é importante para a sobrevivência da mesma frente às variações ambientais. Além disso, Existe a hipótese dos “bons genes”, a qual nos diz que as fêmeas se acasalam com mais de um macho por que seu parceiro é de “baixa qualidade genética” - não apresenta bons genes o implica em uma prole menos saudável ou ainda menos atrativa, quando comparado a outros possíveis parceiros.

Vantagens materiais

Com o acesso a outros machos a fêmea poderia adquirir mais recursos: ingresso e permanência em um território rico, com bastante alimento, e proteção contra os predadores. Ainda, com a poliandria, a fêmea pode gerar uma incerteza nos pais quanto à paternidade da sua prole, o que implica na queda de risco de infanticídio.

E as moscas, o que tem a ver com tudo isso?


Em estudo recente publicado na “Science”, pesquisadores da Universidade Exeter descobriram que, em moscas-das-frutas (Drosophila pseudoobscura), a poliandria tem um sentido: melhorar a saúde da prole. Alguns machos desta espécie têm em seu cromossomo X o gene SR, um elemento gênico egoísta que está presente no genoma dos organismo e, de várias maneiras, podem “manipulá-lo” para cumprir seu objetivo, isto é, estar no máximo número possível na geração seguinte.
Diversos elementos genéticos egoístas, como o cromossomo B estão associados à redução da fertilidade do macho. É sabido que o gene SR mata os espermatozóides que não levam uma de suas cópias, por exemplo, o cromossomo Y.
Assim, fêmeas que se acasalam com machos SR pode apresentar uma prole com fertilidade reduzida. É oportuno pensarmos então que a seleção natural favorece as fêmeas que escolhem machos não SR, uma vez que essa escolha implica na produção de uma prole mais fértil. O problema é que elas não podem diferenciá-los. Os machos não voam com uma “placa” dizendo: “Oi, pode acasalar comigo! Eu não tenho o gene SR”. Por esse motivo, deve ter surgido a tática de copular com vários machos, para ter maiores chances de fazer uma boa escolha. Com essa conduta, as moscas promovem a competição entre espermatozóides no seu trato reprodutivo, e diminuem o risco de que o pai de seus filhos seja um macho SR. Dessa forma o presente estudo, aventa a possibilidade do surgimento, nas moscas em análise, da poliandria como uma contra-estratégia da fêmea para burlar a replicação do gene SR - o benefício da poliandria sob o ponto de vista das moscas fêmeas é , portanto, genético. É interessante notarmos como os interesses genéticos alocados em um sexo (macho provido do gene SR) podem suscitar respostas comportamentias no outro (fêmeas escolhendo vários machos); o que nos indica a intrincada relação entre elementos genéticos e comportamentos de uma determinada espécie.


Referências:

Alcock, J. Animal behavior: an evolutionary approach. 7 ed. Sunderland: Sinauer, 2001.
Price, et al. Selfish Genetic Elements Promote Polyandry in a Fly. Science, 322, 1247, 2008.


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